História, arte e regras da Alta-Costura

Por Giovana Petrocele

A história da moda é vasta. Aqui vamos dar pinceladas de eventos, movimentos, personalidades e peças de vestuários importantes na moda, começando pela “Alta-Costura”, suas características e curiosidades.

Nem toda moda de luxo, alfaiataria chique e grife famosa é alta-costura. É comum escutarmos que ateliês que constroem roupas refinadas e sob medida fazem alta-costura, mas não é verdade, pois ela só existe em Paris, na França. Para fazer parte deste seleto grupo é necessário cumprir algumas regras, que incluem, entre outras, ter um endereço na Avenue Montaigne, Avenue des Champs Elysées ou Avenue Marceau.

Nasceu na Paris de 1910, fundada pela Chambre Syndicale de la Couture Pariense, que impôs regras para criar as maisons, como são chamadas as casas de alta-costura. O objetivo principal era evitar a cópia dos modelos, além de proteger estilistas. Foi regulamentada pela Féderation de la Haute Couture et de la Mode – FHCM, órgão do governo francês.

Criada para preservar os padrões da cultura francesa na moda, a haute couture, é definida como a arte de confeccionar peças femininas em Paris, únicas, feitas à mão, sob medida e com tecidos finos, por costureiros e estilistas das maisons. Os vestidos, casacos e itens de alfaiataria são usados em eventos de gala e desfiles das Semanas de Moda.  

Membros

Apenas os estilistas ou costureiros membros da Fédération de la Haute Couture et de la Mode, podem fazer alta-costura. De acordo com a Federação, são eles: Adeline André, Alexandre Vauthier, Alexis Mabille, Bouchra Jarrar, Chanel, Dior, Franck Sorbier, Giambattista Valli, Givenchy, Jean Paul Gaultier, Julien Fournié, Maison Margiela, Maison Rabih Kayrouz, Maurizio Galante, Schiaparelli e Stéphane Rolland.

São membros correspondentes, considerados pela Federação por representarem o conceito de alta-costura, mas nos países de origem: Ateliers Versace (Itália), Elie Saab (Líbano), Fendi Couture (Itália), Giorgio Armani Privé (Itália), Iris Van Herpen (Holanda), Miu Miu (Itália), Ulyana Sergeenko (Rússia), Valentino (Itália) e Viktor&Rolf (Holanda).

Hoje no Brasil nenhum brasileiro faz alta-costura, mas já fizeram. No ano 2011, com o Atelier Gustavolins, o estilista Gustavo Lins foi membro convidado e permanente. Nos anos 90, Ocimar Versolato (1961-2017) foi diretor criativo da Lanvin, por dois aos.

O estilista Yves Saint Laurent se aposentou no início de 2022, deixando um legado para a alta-costura.

Anualmente o título das marcas é revisado e renovado pelo Ministro da Indústria da França.

Escola

Para trabalhar com alta-costura é necessário ter estudado na Ecole de La Chambre Syndicale, atualmente Institut Français de la Mode, onde ensinam todas as regras, pré-requisitos e técnicas da arte da alta-costura. Profissionais, designers e técnicos especializados na produção de coleções passam por ela, onde aprendem a preciosidade da criação francesa.

Valores

A alta-costura é cara, com valores que variam entre US$ 10 a 300 mil. Os clientes, chamados de colecionadores, somam cerca de quatro mil no mundo todo, sendo a maioria mulheres do Oriente Médio, da África e estrelas de Hollywood.

Regras

Então, vamos às regras:

  • A maison deve ter um ateliê com ao menos uma sede em Paris.
  • O ateliê deve funcionar com pelo menos 20 artesãos trabalhando em tempo integral.
  • A maison deve ter pelo menos 15 funcionários trabalhando em tempo integral.
  • Apresentar duas coleções anuais. Uma de verão, em janeiro e outra de inverno, em julho. Cada coleção com pelo menos 35 looks originais, para o dia e para a noite.
  • Deve ser associado à Federação Francesa de Alta Costura.
  • A marca deve estar instalada em um prédio de no mínimo cinco andares, com endereço numa das três avenidas de Paris: Champs-Élysées, Marceau e Montaigne. Não é necessário que a marca seja francesa.
  • No térreo deve ficar a loja. No primeiro andar, o salão onde as clientes são atendidas.
  • Os modelos devem ser artesanais, sob medida, únicos e feitos à mão. Não podem ser costurados à maquina.
  • As roupas devem ser provadas no corpo da cliente ao menos três vezes.
  • É obrigatório ter perfume da marca, cosméticos e acessórios, como óculos, bolsas e sapatos.
  • Os bordados não precisam ser feitos no Triângulo de Ouro, mas em Paris.

O início

O costureiro inglês Charles Frederick Worth (185-189), radicado na França, é considerado o pai da alta-costura. Na década de 1840, ele mudou-se para a capital francesa por achar que Paris seria mais promissora para suas ideias, abrindo a “Casa Worth” em 1858.

A exibição de modelos foi umas inovações do negócio de Worth, desta maneira, iniciando o que anos mais tarde seriam chamados de desfiles de moda. Outra ideia foi etiquetar o próprio nome nas peças criadas por ele, iniciando assim a tradição de coleções.

A continuidade da casa de moda de Worth, após a sua morte em 1895, se deu através dos filhos Gaston-Lucien e Jean-Phillipe. Época em que o costureiro Paul Poiret (1879-1944) trabalhou como assistente até abrir a sua, no ano de 1903. E, em 1910, criou outro sindicato, separado do Sindicato Geral, originando assim, a Câmara Sindical da Costura Parisiensese. Em 1926 foi criada a Escola de la Chambre.

Depois de dez anos de criação da Casa Worth, o costureiro necessitou sindicalizar-se. Então, no ano de 1868, nasceu a Câmara Sindical da Costura, Fabricantes de Roupas e Alfaiates para Mulheres.

Na Segunda Guerra Mundial, com a ocupação nazista da França, Hitler tentou levar a sede da câmara para Berlim. Com o intuito de proteger a Chambre Syndicale, o então diretor Lucien Lelong, criou as regras da alta-costura na década de 1940. Em 1945 o sindicato mudou o nome para Chambre Syndicale de la Haute Couture.

Fotos: Pinterest

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