Por Giovana Petrocele
Nesta postagem vou dar algumas pinceladas sobre a história do jeans, pois ela é longa, com episódios cheios de desafios, como aquelas séries apaixonantes da Netflix. Eu sou uma viciada no tal bluejeans e poderia escrever um livro sobre o assunto, focando apenas na peça de roupa que virou um clássico: a calça jenas. É uma narrativa curiosa que fará 150 em maio. Foi símbolo da juventude, já foi proibida e hoje é vestida por pessoas de todas as idades.
Despojado. Desejado. Democrático. O bom e velho jeans segue conquistando pessoas de todas as idades, em diferentes partes do mundo. Soberano no segmento é dono de uma história de sucesso. Atravessou guerras, protegeu corpos de soldados e de trabalhadores, foi estrela de cinema, despojou a moda, emprestou a cara para a rebeldia, quebrou tabus e vestiu mulheres com calças tingidas de índigo. Ao longo dos anos o jeans reinventa-se. Inova. Integra culturas. Desfila na contracultura. Une gerações. É figura carimbada em protestos. Veleja mares. Sobe palcos do mundo. Transforma-se em rock. Hoje, questionado pela sustentabilidade, é chamado de vilão por muitos, logo ele, o nosso amado jeans, que nasceu justamente para ser resistente e ter um longo tempo de vida útil.

Independente de status, gênero ou classe social, o jeans gritou por igualdade e abriu brechas para a liberdade feminina, em tempos de revolução cultural. A publicidade da US Top, no Brasil de 1976, já dizia que “liberdade é uma calça azul velha e desbotada”. Apesar de ter nascido para atender os mineradores que precisavam de uma vestimenta robusta, forte, durável, o jeans abraçou a moda. Inicialmente a calça comprida, feita de denim, vestia somente homens trabalhadores. Bem diferente de hoje em dia, com modelos feitos para bebês que ainda nem sabem caminhar, mas que já tem o estilo jeanswear impressos neles pelos pais.
Depois das calças, outras peças foram fabricadas com o jeans, como jaquetas, shorts, saias, vestidos, botas, sandálias e muito mais. Aqui vou me ater às calças jeans, afinal, todos tem pelo menos um modelo no armário.



O denim de Nimes
O nome “denim” foi inspirado num tecido rústico, fabricado na cidade de Nimes (França), com o qual eram confeccionadas as calças usadas pelos marinheiros de Gênova (Itália) e apelidada por eles próprios de “genes”, em meados de 1567. Segundo a história, foi no ano de 1792, que a indústria têxtil de Marylands (Estados Unidos), produziu o tecido rústico, de algodão, trançado, semelhante ao fabricado em Nimes. O nome abreviado originou a palavra denim.
Popularizado nas calças jeans pelo empresário alemão-estadunidense e judeu, Levi Strauss, de São Francisco (Califórnia), o denim começou uma história de sucesso. Ele usou a criatividade para se livrar do tecido que não conseguiu vender na Califórnia, em função do mercado estar saturado. Foi então que o ligado empreendedor inventou um novo uso para ele: calças compridas para mineradores, fortes e resistentes. Nesta época o denim era utilizado para a cobertura de carroças durante a “Corrida do Ouro”, na Califórnia. Com seu apelo durável, o jeans passou a se tornar uma necessidade para outros tipos de trabalhadores. Anos depois acabou se tornando desejo, quando passou a vestir as mulheres e parou na capa da Vogue.

No ano de 1872 o alfaiate Jacob Davis, de Reno (Nevada), fabricante de capas para equinos, escreveu uma carta para Levi. O escrito informava que o peso das pepitas de ouro fazia com que os bolsos das calças dos mineradores caíssem, dizendo que a solução seria unir os bolsos com rebites, como os que ele usava nas correias dos cavalos. Levi gostou da ideia.
1873 – O nascimento do jeans
Davis e Levi se unem para criar roupas de trabalho reforçadas com rebites de metal, feitas de denim true blue. E em 20 de maio de 1873, o US Patent and Trademark Office (Escritório de Marcas e Patentes dos EUA) concede a patente de número 139121 a Levi Strauss & Co. e Jacob Davis, por sua invenção, nascendo assim o jeans, originalmente chamado “XX”.

Em 1866 a logo “Two Horse” que demonstra a força das roupas Levi’s® é colocada pela primeira vez no patch de couro do jeans “XX”, sendo usado até hoje. No ano de 1890 o jeans original XX recebe o icônico número de lote 501.
A patente durou até o ano de 1890, após este ano, outros fabricantes puderam reproduzir as calças jeans.
Quando Levi Strauss morreu em setembro de 1902, seus quatro sobrinhos assumiram o negócio e fizeram doações para instituições de caridade da Bay Area, que atendiam pessoas carentes. Em 1908 a marca Two horse é registrada no Japão e o alcance global da Levi’s® começa com mercados como Austrália e a África do Sul logo a seguir.


Popularização do jeans
Somente após a década de 1930 que o jeans se popularizou, foi usado por cowboys americanos e, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o denim vestiu soldados dos Estados Unidos, passando assim uma imagem de virilidade ao modelo. Nos anos 50, no pós-guerra foi parar no corpo das estrelas e Hollywood. James Dean, Marilyn Monroe e Marlon Brando foram alguns que aderiram ao famoso tecido. Dançou rock’n’roll com Elvis Presley e esteve junto com milhares de jovens no mundo inteiro, como símbolo de rebeldia de gerações.



O jeans foi proibido em algumas escolas na década de 1950, por ser considerado um produto imoral. Isso mesmo. A calça que retratava os chamados “delinqüentes juvenis”, no cinema e na TV, foi proibida nas salas de aulas pelos diretores de muitas instituições de ensino, pois referia-se ao uniforme da rebeldia.
No Brasil o brim
O jeans faz parte da vida dos brasileiros há tempos. A história da moda conta que chegou ao Brasil em 1948, com o primeiro modelo lançado pela fábrica de roupas AB. A calça foi batizada de “Rancheiro”. Não foi sucesso pelo fato de não ser macia e não ser parecida com as desejadas calças jeans americanas. Mais tarde, no ano de 1957, a Alpargatas Brasil, dona das marcas Havaiana, Topper e Rainha, lançou o segundo modelo, chamado de “Calças de Rodeio”, feita em brim. Chamou mais a atenção, mas ainda não se comparava às calças jeans dos Estados Unidos.
Calça Lee quer dizer “calça jeans”
As mulheres brasileiras começaram a usar jeans nos anos 60, pois era uma calça masculina. Lá fora, no exterior, as mais modernas já desfilavam as pernas numa jeans há anos. Nos anos 70, Ditadura Militar no Brasil e Revolução Cultural no mundo, chegava o modelo de jeans mais desejado pelos brasileiros, que era desbotada, igual às originais Lee made in USA: as US Top. Nessa época que Lee virou sinônimo de jeans e até hoje algumas pessoas ainda se referem às “Calças Lee”. O jeans cantou com a jovem guarda e até teve marcas com o nome de Calhambeque, Tremendão e Ternurinha. Também chegaram as desejadas Levi’s. Neste contexto histórico que a Ellus trouxe a técnica “stone washed” para o solo brasileiro. Depois outras marcas de jeans fizeram sucesso no país, como Dijon, Zoomp, Soft Machine, Fiorucci, Topeka e Pakalolo.



Curiosidades do jeans
O nome do jeans – Existe uma hipótese de que o nome “jeans” das calças lançadas por Levi Strauss, tenha surgido dos “genes”, lembram? Os marinheiros de Gênova! Com o passar do tempo a expressão teria se transformado na palavra jeans.
O estilo jeaswear – As calças resistentes inventadas por Strauss foram usadas inicialmente pelos garimpeiros. Pela durabilidade, as peças foram um sucesso, iniciando assim o estilo “jeanswear”, que começou como roupa de trabalho.
Os botões de metal – Eles começaram a fazer parte da calça feita de denim em 1860.
Rebites – Em 1873 foram incluídos nas calças. Com o objetivo de reforçar os bolsos foram colocadas as tachinhas de cobre, tornando-os mais resistentes.
Modelo 501 – Tudo tem uma história por trás. O modelo clássico da empresa foi nomeado de 501, por ser este o código do primeiro lote de calças que fabricado.

A famosa etiqueta de couro – Foi adicionada à calça em 1886, ano que começou a coser a etiqueta de couro no cós das calças, reforçando sua origem.
O indigo – A coloração azul da calça jeans surgiu por volta de 1890, quando Levi Strauss resolveu tingir as peças com o corante de uma planta chamada “Indigus”. Assim, podemos dizer que o jeans verdadeiro é o de coloração azul.
Os bolsos traseiros – Os bolsos característicos das calças jeans, foram adicionados em 1910. Além de resistentes, o modelo funcional com os bolsos, serviu para os trabalhadores utilizarem para guardar pequenos objetos ou papel.
Nas passarelas – Foi em 1980 que a modelo de 15 anos, Brooke Shields, estrelou a campanha em que diz: “Você quer saber o que há entre mim e minha Calvin? Nada… “. No Brasil, na mesma década, sucesso mesmo era o jeans com lycra e a campanha publicitária que tornou Luiza Brunet a musa do jeans.

Despojado- O estilo “Bear Wear Band”, que une o velho ao novo, com as charmosas calças rasgadas consagrou ainda mais o jeans como roupa despojada, usada não somente no cotidiano, mas com diferentes ocasiões de uso. A parte frontal da calça passa por um teste de desgaste e, depois, é unida à parte traseira intacta.
Lavagens – Existem muitos tipos de lavagem na fabricação do jeans, com o objetivo de dar um acabamento diferente ao jeans, como envelhecida, desgastada, mal passada, desbotada, etc. A mais conhecida é a utilização de pedras vulcânicas para desgastar e dar um ar de roupa surrada. As pedras porosas são colocadas na máquina industrial de lavar, junto com o jeans.
Modelagens – Atualmente as modelagens das calças jeans são variadas, desde a tradicional, reta, que faz referência à jenas pioneira, a Levis 501, até as mais modernas. Alguns modelos antifiti, bootcut, baggy, semi baggy, de cintura baixa, slim fit ou tight fit, cigarrete, oversized, mom jeans, wide leg, jogger, pantalona, flare, skinny e saruel.
Espero que tenham gostado do resumão!
Fontes de pesquisa:
https://www.levi.com.br/Institucional/sobre-nos/historia-legado
Fotos Getty Image, Canva, blog Anos Dourados, blog Propagandas Históricas e blog Anos Dourados